terça-feira, 6 de abril de 2010

Falando de Skate Apresenta: Rafael Alexandre de Sousa


FDS - Apesar da "pouca idade" (hehehe) o skate está em sua vida há um longo tempo... Como foi o início desta história?
 Eu tinha mais ou menos uns 7 anos, Eu tinha vindo com os meus pais para Araçatuba . na casa da minha tia tinha uma garagem cheia de bicicleta antiga, carrinho de rolemã e um skate. Ela me deu, inclusive, quando eu estava indo embora para Assis, a cidade onde eu morava. Nesse dia tinha uma bicicleta que ela foi me levar para dar uma volta na garupa e enfiei o calcanhar dentro da roda. Tenho essa marca até hoje. Esse foi meu primeiro contato com o skate. Daí pra frente fomos para uma viagem para o Paraguai e lá meu pai distribuiu uma quantidade de dinheiro para cada filho comprar o que quisesse. Minha primeira compra foi um skate. Eu dava uma volta e limpava todas as rodinhas...hehehe, queria que elas ficassem novinhas como na loja.


FDS -   - Lembra de algum ídolo da época?? Algum nome te influênciou??
Naquela época era  muito difícil o acesso a revistas, vídeos. O esporte ainda era visto como uma coisa underground. No Street o Fernandinho Batmam, Rui Moleque, Alexandre Ribeiro, no free style Cláudio Higa, o pessoal da Sessions e no vertical o Mureta, Ueda, Dinho, Natas Kaupas, Matt Hensley, Ray Barbie, Tony Hawk, Christian Hosoi. E é claro, a galera da cidade – eu já morava aqui – você, Sé, Rubisco, Charlie, Luciano, Gordo, Rodrigo (meu irmão), o pessoal de Assis, cidade em que nasci, Cláudio (Caqui), o pessoal de Londrina PR, Chico Loco, Bocão, Ratinho. Todos influenciaram de qualquer modo, no dia a dia, das sessions.

FDS - Hoje, se olhar para trás... Diria que o skate representa quanto por cento de sua vida??
Diria que, hoje, 100%. O skate é fundamental, tanto no meu estilo de vida, quanto no meu profissional. Aprender e saber lidar com coisas novas e é isso ae... Não desistir nunca!!!

FDS - E isto é pouco ou muito?? Mudaria algo em seu relacionamento com o carrinho??
Isto é o Ideal. Vou mudar e mudo a cada dia. Cada contato, cada manobra e cada acerto. Depende muito do que o dia a dia reflete para vc dentro da cabeça. O Ideal é ter sempre a mente plena, tranqüila e uma pessoa ao seu lado que incentiva a você tentar até acertar.

FDS - Quando nos conhecemos você corria diversos campeonatos.. (era mirim??) como foi esta época?? Algum local ou campeonato o marcou??
Sim, diversos. Nesta época, aqui em ata, tínhamos um feeling diferente do de hoje. Éramos uma galera voltada ao esporte, ao skate, em todos os sentidos. Acompanhamos o esporte (skate) em toda sua evolução, tanto na moda, quando no material. Sua mãe mesmo fez parte de uma quando ela produzia bermudas cargo pra nós. E eram aquelas bermudas que passavam para baixo do joelho. Àquela época quem usava a roupa era visto de forma negativa, era (a moda) marginalizada.
São vários os campeonatos que me marcara, mas um, em especial, pelo fato de ter sido engraçado foi um de Assis, no qual a galera de Ata ficou na casa de um conhecido (meu). Chovia muito. Tinha uma escada na frente da porta de entrada e a mãe do dono da casa saiu dizendo que era pra tomar cuidado para não escorregar. E na hora a mulher quicou a bunda em três degraus da escada e todo mundo ficou segurando para não dar risada e eu não agüentei, pois era o mais novo da galera e não conseguia ter controle. O campeonato acabou nem acontecendo por causa da chuva e rolou um churras na casa do organizador.

FDS - O que o lado competitivo do skate trouxe para a sua vida??
O lado competitivo do skate me ensinou a confiar mais em mim mesmo e torcer pelo próximo. O sucesso do competidor depende da prática e do estado de espírito. Porque skate é mais que esporte, é diversão e estilo de vida. Nos campeonatos o que se vê são indivíduos tentando mostrar para os outros o que sabem e muitos, na hora do campeonato, tentam o que não sabem, mas por serem audaciosos acabam por motivar  a todos a se superarem.

FDS - E o lado for fun do skate?? o lifestyle... O que ele trouxe para a sua vida?
Simplesmente tudo. O skate é o responsável pelo meu jeito de pensar, agir e ver o mundo, o que significa, até hoje, tudo que aconteceu de melhor na minha vida. A galera do skate tem um diferencial positivo em relação aos outros.



FDS - Na história do skate em araçatuba, você levantou uma bandeira notável: dar aulas de skate e promover um espaço para a galera... Fale um pouco desta experiência...
Me vi numa situação complicada, na qual se eu não tomasse uma atitude o skate em Araçatuba correria um sério risco de desaparecer. Digo desaparecer no sentido de mostrar para quem não pratica o quão bom é esse esporte e que existem bons skatistas na cidade. Ou pelo menos que existe. Sempre quis mostrar para a cidade que skate é um esporte, não um brinquedo. Sempre que posso tento conversar com os envolvidos no skate (a molecada) que é precio mobilização, atitude.
Numa certa época, comecei a construir obstáculos (skate) na escola em que prestava serviço (escola da família) e como sempre estive envolvido com esporte e educação pra criança de periferia tentava ajudar a comunidade, tentava dar uma força para os skatistas que conhecia. Nunca desisti desse esporte, por mais que a administração pública não faça nada para incentivar esse esporte maravilhoso. O skate é um dos objetos mais forte de inserção de crianças carentes na sociedade, pois quando todos os skatistas estão unidos na prática, não existe diferença social e sim um torcendo pelo outro e se divertindo. Promovi inúmeros campeonatos nos bairros da cidade. Tive contato com a situação precária em que cada um passa; bairros e pessoas totalmente carentes, sem acesso a nenhum tipo de lazer. Em um determinado período andávamos num certo bairro da cidade, numa praça para ser mais exato, nesta muitos skatistats locais e simpatizantes apareciam pra apreciarem o conhecer de perto o esporte, começou um movimento e tanto nesta praça somente aumentando o publico a cada dia chegando até a vir skatistas da região .Certo dia  chego lá eu e um amigo também skatista (dioguinho) e tudo estava quebrado,dilacerado,queimado.Juro q fiquei desapontado,ali foi o fim pra mim dali poderia surgir projetos  ligados a arte de rua (grafite,break,hip hop ) tudo pra melhorar mas nós fomos banidos, ninguém sabe por quem, nem quando aconteceu o ato mas ninguém viu ou não quis falar.
Mas mesmo assim não desisti e logo fui procurar um novo espaço.
Fique sabendo que uma praça no centro estava por inaugurar e fui atrás para tomar conta do espaço de esporte tentando inserir o skate no meio. Adotei logo antes de ficar pronta a quadra colocando um caixote e indo atrás de novos obstáculos a cada dia até hoje. É o lugar onde nos divertimos até hoje e uma situação engraçada aconteceu estes dias cheguei lá, eu e minha esposa(que sempre me dá força nas sessions) um cidadão e sua familia estava bricando na quadra perto dos obstáculos, pedi com toda educação licença para que pudéssemos repartir o espaço e tal, mas o cidadão, que descobri ser delegado de policia, se irritou dizendo que não sairia do lugar e que se o skate pegasse nele o negócio ia ficar feio,que onde já se viu eu já era marmanjo em cima daquele carrinho(meu amado skate o qual me custa caro) tentando me deixar irritado de qualquer maneira, mas não conseguindo falei...EI NA BOA VOU CONTINUAR A ANDAR DE SKATE AKI SÓ ME DÊ LICENÇA SE NÃO POSSO ACERTAR VC.Na real deveria ter arrancado as canelas dele pela má educação, mas a família estava presente e do meu lado que foi o pior ele se irritou de um tanto  chegando a ir embora e de quebra falou que iria sumir com tudo ali,foi embora  e tudo ficou na paz . Que situação!!!

FDS - Acho que algo similar só ocorreu na iniciativa privada.. com a antiga pista da Bob.... Lembra? Você acompanhou esta experiência?
Sim, o Marçal tentou ajudar da maneira dele. Na época o lugar era bem afastado, a estrutura não era muito boa. Muitos obstáculos em pouco espaço. A população local não era muito receptiva, mas mesmo assim muitos atletas surgiram, inclusive alguns com destaque hoje nacional.

FDS - Dali nasceram diversos nomes da cidade... 
Skatista como o Patrik, Dioguinho, Jhonyn, Preto, Gustavo, mas muitos não andam mais, deixaram perder o que há de melhor no skate, o feeling, a essência na qual somente nós, que vivemos o início do esporte, temos skate acima de tudo independentemente de qualquer coisa. Pra ter uma idéia hoje me divirto independente dos outros. Eu e minha esposa.

FDS - O Programa escola da família, além de te proporcionar este contato com a molecada te ajudou em sua formação.. Como rolou?
Um dia, andando de skate, na escola Jorge Correa, uma amigo que já estava envolvido no programa me incentivou a cadastrar-me, daí pra frente tudo só melhorou. Consegui estudo e de quebra ajudar quem realmente precisa.

FDS - E desta época... O que ficou ??
O bom senso. Despertou-me uma visão que todo mundo deveria ter, o mínimo que vc puder fazer pelo próximo, seja na parte cultural ou esportiva, tem gente pronta para aceitar de braços abertos e que se lembrará de você para sempre.

FDS - E você continua sendo referência no skate.. trabalhando em lojas.. pista.. dando força pra molecada que começa.. como vê esta responsabilidade?
Vejo isto como uma realidade, sou responsável e passo sempre pra frente o que tenho de melhor, pois você acaba por ser alvo a todo momento,como o que vc fala e usa é o melhor(pra eles) .Trabalhando em loja, principalmente, tento direcionar o que é pra skatista  do que é pra simpatizante, por exemplo, o tênis que dura mais,truck, roda... é uma missão difícil  tentar mostrar o quê é realmente durável pra prática do skate.Tenho projeto hoje na associação Casa Lar, com pessoas especiais, a cada 15 dias dou aula de skate,tive também um projeto de skate na praça Getulio Vargas para crianças e interessados aprenderem a andar de skate.Sabe não ligo de ceder meu tempo ensinado o skate para as pessoas, faço de coração, somente não acho legal os pais não participarem de perto, aprendendo um mínimo também para em outro momento serem eles os responsáveis pelo crescimento do esporte no decorrer da vida dos filhos.

FDS - E o que é o skate pra vc??
Skate é crescimento e desenvolvimento espiritual, a todo momento vc aprende e ensina , adapta pra vida tanto as atitudes como os acertos e quedas.

FDS - Se alguém te perguntase por q começar a andar.. o que falaria??
Falaria “meu monta aqui, libere sua mente de tudo, deixa eu te segurar, impulsionaria e soltaria quem sente o prazer de estar em cima nunca mais esquece é diferente de tudo,seria mais ou menos como no Peter pan quando ele ensina a voar pensamentos bons somente e tudo ocorre naturalmente.Um esporte que depende somente de nós mesmos então meu querido não tem como jogar a culpa em ninguém somos nós contra nós mesmos SUPERAÇÃO SEMPRE.

FDS - E hoje? o que te motiva a continuar andando??
Primeiro minha esposa e familia, todo momento feliz vivido junto reflete na sessão, depois um sonho de poder ver os camaradas que, por mais que desmotivados, eles estejam não permito que desanimem .Quero e tenho certeza que mostraremos para esta cultura provinciana e de mente pequena que o desenvolvimento do skate em Araçatuba não morrerá NUNCA.

FDS - E até quando esta história vai???
Pra semmmmmmmpre.
Muitos tentam nos derrubar, pode ser seu camarada do lado que não deixa ou não incentiva seu “rolê”, fala pra vc desencanar de andar fazer outra coisa e tal.. Mas lembre-se que a evolução é constante começa no pensamente para passar para as manobras. As vezes nos desanimamos por somente restringirmos a poucas manobras que sabemos, mas isso só se quebra se destravarmos nossos preconceitos e dominarmos nossos pensamentos. Por que tomar uma cerveja é tão fácil e andar de skate e aprender coisas novas é tão difícil? Por que pensar no não primeiro ao invés do sim?


FDS - Defina skate em poucas palavras!
R: SUPERAÇÃO, PAZ E ANTÍDOTO

FDS - Entrevista curta... (risos) Mais algumas palavras pra galera??
AMO ESPOSA,MÃE ,IRMÃOS,AMIGOS E CONHECIDOS E DESEJO O MELHOR PRA QUEM QUER O MEU PIOR.
AMÉM...

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